Carla
Ensinar minha filha a ser independente e fazer as próprias escolhas desde que nasceu, às vezes, me custava muita paciência, em dias como hoje em que Alana decidiu que sua festa de aniversário seria na casa do pai dela e não aqui. Tudo estaria bem se eu não estivesse tentando evitar os mesmos ambientes frequentados por Tomás Campos Sales desde que assinei o divórcio há dois anos, argh, até uma simples menção ao nome dele em pensamento me deixava enjoada, como vou aguentar uma festa de 3 horas? DEUS ME DÊ FORÇAS.
— Quer parar de se lamentar? E começar a se arrumar logo? Já despachei a aniversariante e as 10 amigas escandalosas no carro pra casa do….– Luiza comentou, me sacudindo, como se lesse meus pensamentos.
— Não diga o nome dele!
— Não sei pra quê tanta agonia? É só uma festa cheia de adolescentes estridentes com apenas você e seu ex-marido de adultos responsáveis! Nada demais vai acontecer, do que você tem medo? De começar rindo e depois ir parar na cama dele de novo? – Luiza Gargalhou.
Impossível, nem pensar em uma coisa dessas.
— Quando você e a Valentina brigaram, eu te dei apoio, fiquei do seu lado, cuidei do Léozinho, comprei vinho caro pra você se embebedar e é assim que me agradece? Sapatona ingrata.
— Olha a lesbofobia, bicicletinha hippie divorciada e tô aqui pra te apoiar, mas acho que você tá exagerando! E digo mais, você ainda é apaixonada por ele e não quer admitir pra si mesma.
— Lu, você sabe que só amor não é suficiente. – Me levantei e comecei a me arrumar.
Essa noite é sobre Alana e não sobre questões mal resolvidas com Tomás. Meu bebê estava crescendo rápido demais. Parece até que foi ontem que eu era apenas uma adolescente assustada com um teste de gravidez positivo nas mãos com medo do que pudesse acontecer depois, cheia de dúvidas se daria conta ou não de cuidar de outro ser humano. Mesmo com todos esses anseios, eu amei Alana desde o primeiro instante que soube da existência dela, Tomás sempre diz que também sentiu, olhar pra nossa filha é como ver um pedacinho de nós crescendo por aí, Alana tem os olhos iguais aos meus, mas tem os cabelos do pai, um sorriso largo, dança e escreve poesia desde que aprendeu a escrever aos 5 anos, piadista e rodeada de amigos, ela é uma prova de que nosso amor existiu e foi capaz de criar um ser humano incrível como só minha filha consegue ser. Por isso, ela merecia uma comemoração com a família completa, mesmo que me custasse um pouquinho de sanidade.
A festa não tinha um tema, mas Alana pediu que os convidados fossem usando trajes brancos ou pretos, acabei optando por um macacão branco de uma calça só, curto, fiz uma maquiagem básica e estava pronta.
— Vamos, Lu, tô pronta!
Tava pronta coisa nenhuma, assim que Luiza estacionou o carro na garagem da casa de Tomás, eu fui invadida por lembranças, do início da gestação, todos os planos que fizemos, nosso casamento, os primeiros passos de Alana, cada saudade e ausência, entre declarações e discussões, não havia uma memória minha em que Tomás não estivesse presente. Isso é encantadoramente assustador. Saio do carro no automático, minha amiga não percebe por sorte.
Quando chegamos a área da piscina a cena com que me deparo é a de Alana à frente de sua cortina cinza com glitter que ela mesma tinha feito, rindo de algo que o pai tinha dito enquanto tirava fotos dela.
— Pronto aí ó, Chegou a mãe mais gata do Brasil, a melhor do mundo, a minha! – Alana gritou assim que percebeu minha presença.
— E você é a filha mais puxa-saco que existe! – Tomás comentou, entre risos, eu me obrigo a não olhar para ele quando passo perto pra abraçar a aniversariante.
— Agora que minha família tá completa, eu mereço uma foto, vem paizinho! – ela o chamou sem me soltar, Tomás ficou do lado direito dela. Alana fazia caretas para a câmera e eu só ri das palhaçadas dela. Tomás parecia hipnotizado com algo e não prestou muita atenção à foto.
— MÃE, VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR EM QUEM O MEU PAI TROUXE DA FAZENDA!!! – Alana gritou no meu ouvido, meu deus que menina escandalosa!
— Quem? – Perguntei sem muito interesse.
— o Malik!! Ele tá uma graça, mãe!
Malik era nosso Golden Retriever, adotamos ele ainda filhote em uma feirinha de adoção de cachorros, antes de saber que eu estava grávida. Não ficamos muito tempo com ele em casa, porque costumávamos viajar muito, então o levamos pra morar na fazenda, só o víamos nas férias, com a separação e tudo mais, ele acabou esquecido ficando esquecido por lá.
— Cadê meu cachorro? Eu quero ver meu filho agora.
— Tá lá no jardim, leva ela lá, paizinho – Alana pediu, se virando para Tomás e depois para mim.
— Eu sei ir sozinha, tá? — protestei
— É, mas você não tem a chave da casinha dele, eu tenho! – Tomás tira a chave do bolso, já seguindo em direção ao jardim. O segui meio a contragosto, Tomás assobiava uma canção que não reconheci enquanto caminhávamos juntos, percebi que as rosas chá que eu costumava plantar continuavam sendo cuidadas e cultivadas. Mas, por que?
A casinha de Malik ficava ao fundo, assim que Tomás abriu a porta, meu cachorrinho pulou em cima de mim, quase me derrubando, latindo agitado e feliz por me ver:
— Oi meu amor, como você cresceu, meu bebê, você sentiu falta da sua mamãe? Eu vou levar você para minha casa – Malik lambeu meu rosto como se aprovasse a ideia, beijei seu focinho.
— Você não vai levar ele! – Tomás negou, a irritação em sua voz era palpável.
— Por que não? Ele é meu! Você me deu ele de aniversário, esqueceu? Portanto, Malik vai morar comigo.
— Nada disso, adotamos ele juntos, ele é nosso e além disso, se você o queria tanto porque não foi buscá-lo? Eu o trouxe, então ele fica aqui. – Insistiu.
— Eu estava ocupada, o cachorro é meu ,vai ficar comigo e ponto final. – Levanto da grama e seco o rosto, ficando de frente para o meu ex.
— Olhe em volta, Carlinha, tudo que está aqui é seu, a casa, o jardim, sua filha, seu cachorro, eu… — ele se aproximou de mim, sussurrando, minha pele se arrepia, o cheiro amadeirado do seu perfume invade meu olfato.
1 Million Paco Rabanne como sempre
— Ah Tomás, nem comece , tá? vamos voltar pra festa antes que… – Me detive antes que falasse alguma coisa que o deixasse ainda mais convencido. Caminhei de volta pra piscina e minha atenção se voltou exclusivamente para a Alana, ela quis dançar, pular, brincar, comer, dividida entre ficar comigo e os amigos, acabou juntando todo mundo. Vez ou outra, eu flagrava Tomás olhando pra mim, eu adorava o desejo que via naqueles olhos, mas simplesmente não podia ceder. Alana fez suas tentativas inúteis de nos aproximar, Luiza também, mas eu pedi às duas para pararem imediatamente.
Lá pelas 23h30, logo depois dos parabéns, encontrei Alana dormindo embaixo da mesa do bolo, os convidados todos já tinham ido embora e uma chuva grossa começava.
— Vou levar essa mocinha para o quarto dela — Tomás carregou Alana nos braços como se fosse um saco de batatas e nem assim ela acordou.
— Vou indo para casa, então! – avisei.
— Nem pensar que você vai dirigir nessa chuvarada toda, dorme aqui.
— onde?
As amigas de Alana que vieram de Sp estavam ocupando o primeiro quarto de hóspedes, Valentina, Luiza e Leo estavam no segundo e no terceiro estavam amontoados todos os presentes recebidos. não tinha espaço nenhum pra mim ali.
— Como onde? No meu quarto né? Olha se te deixar mais confortável, eu posso dormir no estúdio, não que seja um grande sacrifício dividir a cama comigo, você sabe bem que só tem vantagens. – Tomás sugeriu, com aquele meio sorriso cafajeste, bem característico dele.
— Eu não tenho muita escolha, não é mesmo? – Suspirei derrotada.
Segui para dentro de casa e ao chegar no quarto, fiquei surpresa ao constatar que tudo estava exatamente igual ao que deixei aqui, dois anos antes, só faltavam meus pertences. Fui até o closet e substituí meu macacão por uma camiseta preta dele que eu sempre usava pra dormir quando sentia saudades,, ela estava guardada no lugar de sempre, de novo ,seu cheiro me invadindo, não do jeito que eu queria.
— Você nunca vai perder essa mania, não é ? — Tomás comentou, já sentado na cama, ele usava uma calça de moletom preta, sem nenhuma camiseta.
Os braços musculosos tatuados, o abdômen liso praticamente pedindo para que eu passasse as unhas nele. Tudo naquele homem tinha se transformado em uma tentação.
— Eu não tenho culpa que suas camisetas sempre ficam melhores em mim. – Eu ri, indo me sentar na cama ao lado dele.
— Disso eu não posso discordar, mas não me provoque. – Pediu, de novo em um maldito sussurro.
Me aproximei mais, deixando meu rosto a milímetros do dele, repousando uma perna em cima da sua.
Tomás segurou minha nuca, massageando de leve ali, passou a pontinha do nariz sob o meu, mordeu meu lábio inferior e puxou. Eu queria que ele me beijasse de uma vez.
— Então, peça, Amor! – Falou como se lesse meus pensamentos. Que ódio.
— Me beije.
Pedi e segundos depois, seus lábios já estavam chocados contra os meus com necessidade, sua língua invadia minha boca, suas mãos desceram para minha cintura, me apertando sob o tecido fino da camiseta.